Segurança psicológica aumenta retenção de trabalhadores brasileiros em até 3,9 vezes, aponta BCG
Impacto em pertencentes a grupos de diversidades é ainda mais relevante.
Cecilia Aureliano, diretora executiva e sócia do BCG. (Foto: Divulgação)
Sentir-se seguro para falar no ambiente de trabalho, assumir riscos, compartilhar ideias e preocupações, fazer perguntas difíceis e admitir erros sem medo de ser culpado ou criticado. Esses são alguns dos principais elementos que formam um ambiente profissional com a chamada segurança psicológica. De acordo com dados inéditos da pesquisa Psychological Safety Levels the Playing Field for Employees, realizada pelo Boston Consulting Group (BCG), com 28 mil profissionais de 16 países, incluindo o Brasil, pessoas que trabalham em locais com altos níveis de segurança psicológica relatam se sentir de duas a três vezes mais motivados, felizes e capazes de atingir todo seu potencial do que aqueles que não vivenciam esse tipo de ambiente. Além disso, quando lideranças das empresas são empáticas, fator determinante para segurança psicológica, o nível de retenção de talentos aumenta 3,9 vezes.
“Liderança empática consiste em demonstrar compreensão e respeito pelas perspectivas, emoções e situações vividas pelos membros do time. Quando presente no local de trabalho, as organizações constroem equipes que podem aproveitar a criatividade e os conhecimentos provenientes de diversas vozes e perspectivas”, acrescenta Cecilia Aureliano, diretora executiva e sócia do BCG.
O cenário no Brasil
Ainda que não nos mesmos patamares quando comparados com as médias globais, a segurança psicológica e as lideranças empáticas também têm influência positiva nos trabalhadores brasileiros. No país, profissionais que trabalham em empresas com altos níveis de segurança psicológica se sentem 2 vezes mais motivados, 2 vezes mais felizes, 1,8 vezes mais capazes de atingirem todo seu potencial e 2,8 vezes mais respeitados e valorizados quando comparados àqueles que não encontram o mesmo ambiente.
Cecília explica que esse conjunto de fatores contribui para a retenção de talentos no Brasil: “nas empresas nas quais a segurança psicológica é alta, o percentual de trabalhadores que cogitam pedir demissão no período de um ano é de 3%. Já naquelas com os menores níveis de segurança psicológica, esse percentual quase triplica, chegando a 8,6%”.
Segurança psicológica é ainda mais importante para grupos de diversidade
O impacto positivo da segurança psicológica é ainda maior entre mulheres, BIPOC (pretos, indígenas e pessoas de cor), pessoas LGBTQ+ e com alguma deficiência, tanto no Brasil quanto no mundo.
O relatório aponta que quando líderes são bem-sucedidos na tarefa de criar um espaço psicologicamente seguro no trabalho, a retenção pode aumentar mais de quatro vezes entre mulheres e trabalhadores que se identificam como BIPOC, cinco vezes entre pessoas com alguma deficiência, e seis vezes entre profissionais LGBTQ+.
No Brasil, a influência positiva da segurança psicológica também é observada nos grupos de diversidade, com impacto significativo na retenção de mulheres. Enquanto para grupos de pessoas com deficiência, LGBTQ+ e BIPOC, a retenção pode aumentar de 2,3 a 2,9 vezes, para mulheres esse indicador é 4,8 vezes, similar aos 4,5 vezes identificados globalmente.
A diferença entre os números globais e locais para os grupos BIPOC, LGBTQ+ e pessoas com deficiência chama a atenção, sendo a maior discrepância para pessoas LGBTQ+. Globalmente, o indicador de uma pessoa LGBTQ+ deixar seu emprego em um ambiente com baixa segurança psicológica é 6,2 vezes - o índice mais elevado entre todos os grupos de diversidade analisados. Já, no Brasil, a situação é inversa; a falta de segurança psicológica aumenta em 2,3 vezes o risco de pessoas LGBTQ+ deixarem suas empresas.
“Esses contrastes nos levam a refletir sobre as dinâmicas únicas de cada cultura e como elas impactam diferentes grupos no ambiente de trabalho. A compreensão dessas singularidades pode orientar as empresas na criação de práticas que levem em consideração as especificidades desses profissionais, promovendo, assim, um ambiente de trabalho inclusivo e seguro”, observa Cecília.
O que líderes empáticos fazem
A construção de uma cultura de segurança psicológica começa no topo. O estudo do BCG aponta quais táticas os líderes devem aplicar para alcançar esse objetivo.
• Formalize o tempo para compartilhar e aprender. No começo de reuniões, reserve alguns minutos para que as pessoas interajam entre si sobre aspectos pessoais, como algo que aprenderam recentemente ou o que fizeram no final de semana.
• Realize reflexões ou “retrospectivas” regulares com o time. Crie oportunidades para discutir o que o time está fazendo certo e como pode melhorar.
• Desafie ideias, não pessoas. Quando apresentar feedbacks, garanta que qualquer crítica seja direcionada à qualidade do trabalho, e não à pessoa que o realizou.
• Mantenha-se aberto e autêntico. Líderes devem compartilhar abertamente com o time seus próprios erros e lições aprendidas.
“Os benefícios de um espaço de trabalho diverso são só percebidos quando as pessoas se sentem seguras para assumir riscos e compartilhar novas ideias”, afirma Cecília. “Promover segurança psicológica dá trabalho e pode ser difícil às vezes, mas o esforço vale a pena e gera ambientes genuinamente mais diversos”.